Está frio. As mãos e os pés ficam gelados. A nossa respiração transforma-se em vapor.
O que apetece é ficar sem fazer nada, fechar os olhos e ouvir o som da chuva bater na janela. Ou então, enrolar-me num cobertor e assistir a um filme com uma caneca de chocolate quente na mão. O chocolate é uma boa companhia quando se está sozinha.
O meu cão aninha-se aos meus pés. Olho as chamas da lareira e sinto o seu calor aconchegante entorpecer-me os músculos e os pensamentos.
Como este ano passou rápido! Como o tempo passa rápido! Ainda no outro dia era uma miúda esperta, cheia de razão, de certezas, com caminhos bem traçados e objectivos bem definidos. Hoje tenho 19 anos, sinto-me só, perdida, tomei decisões para as quais não estava preparada, mudei, passei por algumas experiências novas e agora estou aqui, sem fazer a mínima ideia do que vem a seguir.
Mas há que ter força, já dizia Darwin, no jogo da vida só os mais fortes sobrevivem.
Estou a entrar naquela fase em que se começam a perder os amigos. A distância faz destas coisas. Quando os meus pais me diziam que havia muita gente de quem tinham perdido o contacto, eu não conseguia perceber como era possível perder assim um amigo. "Perder um amigo" como quem perde as chaves de asa. Agora entendo que alguns já não fazem paret da minha vida e que há que deixá-los seguir o seu caminho. E como isso é triste. Mas também, cuidar dos que ficaram não é tarefa fácil. Não sei se uma amizade é amis fácil que um amor (visto não ter grande experiência neste último), mas sei que uma amizade dá trabalho. Dá muito trabalho.
Eu quero ver o mundo. Há tanto para descobrir, pessoas para conhecer, coisas para aprender. Mas depois fico com medo, deixo-me estar pelo meu quarto, pela minha casa, pela minha cidade. É uma passividade que me estupidifica e me enjoa. O medo e a insegurança são sentimentos lixados.
Eu nunca vi nevar. Uma vez vi um livro sobre uma rapariga brasileira que nunca tinha visto nevar e só quando descobriu que tinha SIDA é que se meteu num avião e foi para o Canadá (?) ver nevar. Porque é que as pessoas só começam a aproveitar a vida quando ela está quase a acabar?
Eu qualquer dia apanho o avião e vou para a Finlândia ou assim para ver água gelada cair do céu! Qualquer dia...